COP30: do discurso à prática – por Clara Assumpção

O desafio da COP30 é consolidar pactos intersetoriais capazes de transformar territórios.

A realização da COP30 em Belém do Pará coloca o Brasil em posição estratégica na governança climática global. Ao ocorrer na Amazônia, a conferência carrega a responsabilidade de traduzir compromissos multilaterais em ações concretas. O desafio é não repetir a lógica de promessas pouco executadas, mas consolidar arranjos institucionais capazes de gerar legados reais para os territórios e populações, principalmente as mais afetadas pela crise climática.

Meu tema de pesquisa em políticas públicas tem mostrado que o investimento social privado (ISP) pode assumir papel importante nesse processo quando articulado a políticas públicas e ao fortalecimento comunitário. O ISP já percorreu uma trajetória que vai da filantropia assistencialista ao alinhamento estratégico com agendas ESG e de desenvolvimento territorial. Essa evolução abriu espaço para novas formas de atuação, mas também evidenciou que iniciativas isoladas e sem governança local têm baixo potencial de transformação.

A COP30 é uma oportunidade para demonstrarmos que é possível superar essa fragmentação. Para tanto, será necessário articular governos, empresas e sociedade civil em torno da pactuação intersetorial e planos de longo prazo. O ISP pode assumir protagonismo nesse processo ao se engajar em coalizões que unam justiça climática e desenvolvimento territorial, gerando resultados que transcendam projetos pontuais.

Práticas como o Urbanismo Social já mostram que é possível integrar investimentos públicos e privados em infraestrutura e serviços, associados à participação comunitária para transformar territórios. Quando orientado por esse olhar, o ISP gera impacto local e amplia a incidência política, ajudando a desenhar cidades e comunidades mais resilientes. Nesse campo, a Diagonal atua como articuladora desses pactos, oferecendo, por meio de sua consultoria em desenvolvimento territorial para empresas e de sua atuação direta com comunidades vulnerabilizadas e afetadas pelos riscos climáticos, ferramentas concretas de enfrentamento às desigualdades e metodologias que fortalecem a governança local.

Nesse sentido, a COP30 pode ser um catalisador de novos pactos intersetoriais. O risco de se restringir a uma vitrine de intenções é real, mas temos a oportunidade de liderar um ciclo de transformações positivas, não apenas pelo discurso, mas pelo exemplo de como articular sociedade civil, setor privado e poder público em torno de legados sociais e ambientais permanentes.

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